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cadastre-se agora30.08.2017 | SAFRA - por Cleiton Evandro dos Santos - AgroDados - Planeta Arroz
Primeiras estimativas da intenção de plantio indicam estabilidade ou pequena retração na área plantada no Rio Grande do Sul. Argentina e Uruguai devem reduzir área, mas o aumento no Paraguai compensa um dos países
Se a redução de área cultivada com arroz é a solução para reduzir a oferta e equilibrar os preços no Mercosul, essa proposta precisará ser concretizada no Brasil. E não é o que está acontecendo. A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) adotou a ideia e a recomendação de que os produtores gaúchos e do Mercosul reduzam a área plantada em até 250 mil hectares na próxima temporada para enxugar a oferta e buscar preços mais equilibrados no mercado sul americano. No entanto, como já previam alguns dos arrozeiros e analistas presentes no Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado, no início do mês, em Gramado (RS), a estratégia não alcançou as decisões individuais dos arrozeiros.
Ainda que se veja, em especial na Depressão Central, vários contratos de arrendamento trocando de mãos, não se percebe a intenção dos produtores de promoverem a diminuição de área de forma expressiva. Tanto os números de intenção de plantio do Irga quanto os da Emater não indicam grande retração na área cultivada no Rio Grande do Sul.
Na semana que passou o Irga divulgou análise técnica da intenção de plantio das lavouras gaúchas, e o indicativo de que o conjunto da orizicultura gaúcha pretende diminuir a superfície semeada em apenas 2,5%, ou 27,5 mil hectares, para um total de 1,078 milhão, não surpreendeu ninguém. Nesta segunda-feira, durante o Dia do Arroz, o presidente do Irga, Guinter Frantz, explicou que a capilaridade e a estrutura do Irga permite fazer uma pesquisa que traduza dados muito próximos da precisão. Mas, que a intenção de plantio é uma projeção que, para se confirmar, ainda terá que superar diversos obstáculos.
“O fato de o produtor ter a intenção de cultivar determinada área serve como balizador, mas não quer dizer que estes dados se concretizem. Isso porque o agricultor ainda precisa obter o crédito para custear a safra, que está cada vez mais limitado, há boa parte que está descapitalizada e isso vai impactar o pacote tecnológico aplicado, e ainda há o fator clima que pode interferir. Então, pessoalmente, considero que a redução de área pode chegar perto de 5%, mas não muito além disso”, explica o presidente do Irga. Pelos dados atuais, 5% representaria algo em torno de 55 mil hectares, o que levaria o Rio Grande do Sul a semear 1,051 milhão de hectares no total.
EMATER
A Emater/RS-Ascar divulgou na manhã desta terça-feira (29), durante a 40ª Expointer, em café da manhã que contou com a presença de profissionais de imprensa, autoridades estaduais e federais, os números referentes à primeira estimativa de área a ser plantada e produção realizada pela Instituição para a safra dos principais grãos de verão 2017/2018 no Rio Grande do Sul. O destaque foi a soja, que deverá ter um aumento de 3,16% na área plantada em relação ao ano passado.
A cultura do arroz deverá ocupar 1.100.818 hectares, área 0,33% menor do que os 1.104.494 hectares da safra passada. De acordo com o levantamento apresentado pelo presidente da Emater/RS, Clair Kuhn, a produção também terá uma variação negativa da ordem dos 0,96 pontos percentuais, caindo de 8.613.467 toneladas colhidas em 2017 para 8.531.024 toneladas em 2018. A produtividade média esperada é de 7.750kg/ha. “As produtividades iniciais são baseadas na tendência registrada pelas produtividades médias municipais dos últimos 10 anos”, explica Kuhn.
MERCOSUL
No Mercosul o cenário não é muito diferente. Na Argentina há uma estimativa de que a área a ser semeada caia de 214 para 201 mil hectares, com retração de 13 mil hectares, ou 6%. É a região com maiores problemas de custo e retração da rentabilidade, depois do Brasil. Produtores têm buscado ações junto ao governo federal para redução da carga tributária e incentivos à produção.
No Uruguai a previsão é de que a área de 164 mil hectares seja reduzida para 150 mil hectares, ou 8,5%. Porém, o governo uruguaio anunciou que deve apresentar medidas de incentivo ao setor, como ampliação dos incentivos para exportação, inovações nas regras do reintegro e redução de tributos que incidem sobre a cadeia produtiva. Em estudo estão a redução de taxas que compõem os preços do óleo diesel e da energia elétrica para irrigantes, para a importação de alguns insumos, além de taxas portuárias.
Ao mesmo tempo, foi anunciada uma parceria com o Irã, que pretende realizar investimentos em até 50 mil hectares de lavouras de arroz no Uruguai para atender às suas importações. Nem toda a área seria nova, parte seria a absorção ou parcerias com produtores já estabelecidos, mas o volume representa um terço da área cultivada pelos 480 arrozeiros uruguaios. A estimativa é de que o setor produtivo uruguaio tenha uma dívida de 120 milhões de dólares entre empresas de insumos e bancos e prestadores de serviços. Para piorar, os uruguaios que são referência mundial em qualidade, tiveram um navio de arroz rejeitado no Iraque por não cumprir as especificações do contrato (% de quebrados).
La garantia soy yo!
O Paraguai vive uma situação completamente diferente do restante do Mercosul e, segundo divulgado na imprensa local na última semana, deve aumentar a área cultivada de 142 para 155 mil hectares. Desta maneira, o Paraguai ultrapassaria o Uruguai em área cultivada, mas ainda não em produção por causa da diferença de produtividade. Com algumas áreas produtivas mais próximas do clima tropical do que do temperado, os arrozeiros paraguaios ainda utilizam genética brasileira, uruguaia e argentina, razão pela qual têm baixas produtividades. Mas, até 2020 entrarão em uso cultivares desenvolvidas para o ambiente paraguaio, segundo técnicos locais.
Atualmente, 85% das exportações paraguaias são dirigidas ao Brasil e são absorvidas pelas indústrias e o varejo do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, principalmente. Mesmo com retração nas cotações médias este ano, o Paraguai tem clientes fiéis e preços, ainda que abaixo do que esperavam, muito competitivos frente ao restante do Mercosul. Seus custos também são mais baixos, especialmente em mão-de-obra, energia, combustíveis, insumos e exigências ambientais.
E as variedades são as mesmas plantadas nos demais países, com qualidade similar. Para quem importa, um grande negócio.
E agora?
Como vimos, o Paraguai deve compensar, com um avanço de 13 mil hectares, quase 10%, toda a redução do Uruguai e mais um pouco da queda na Argentina. Ou, ainda, metade da retração do Rio Grande do Sul, estimada pelo Irga.
Ou seja, o mercado seguirá ofertado e a meta de 250 mil hectares de redução dependerá de um maior poder de convencimento da Federarroz sobre os próprios associados e o restante do Brasil. Porém, em Santa Catarina, a expectativa inicial é de manutenção da área cultivada. E no Mato Grosso a safrinha de arroz vem crescendo, bem como a área do Tocantins, que está sendo impulsionada por novas e adaptadas cultivares.
Para o diretor jurídico da Federarroz, Anderson Belloli, sugerir uma redução de área é algo que vai contra os princípios históricos da federação, mas é uma atitude que o momento, a conjuntura e o futuro do setor exige. “Diante da conjuntura macroeconômica, cambial, de oferta e demanda e dos elevados custos de produção a que chegamos, do nível de abastecimento, precisamos tomar uma atitude se não quisermos ter em 2018 um ano ainda mais difícil para a comercialização e a renda do agricultor que estamos tendo. E esta não é uma realidade que afeta apenas aos brasileiros, mas a todos os arrozeiros do Mercosul. Se ainda não é a realidade do Paraguai, sem uma mudança na estratégia de oferta, com todos pressionando apenas o Mercado brasileiro, esta logo será a realidade deles também”, resume.
Para Alexandre Velho, vice-presidente da Federarroz, que na semana passada esteve no Uruguai apresentando a realidade da crise no Brasil, não há outro caminho. “É preciso reduzir a oferta se quisermos valorizar o produto. Como? Diminuindo o cultivo em áreas marginais, de alto custo e baixa produtividade. Quem puder e tiver tecnologia disponível e áreas que permitam um bom desempenho, deve cultivar soja, já prevendo a rotação e os ganhos agronômicos para a temporada 2018/19”, explica. Segundo ele, repetindo a mesma área ou algo próximo, os arrozeiros já podem ter 99% de certeza de que os preços no ano que vem serão fracos. “Até porque vamos de um estoque de passagem muito baixo para mais de 1,5 milhão de toneladas”, argumenta.
FARSUL
O diretor da Farsul, Francisco Schardong, não acredita em grande diferença na área a ser cultivada. “Na nossa história temos uma conjuntura na qual 70% dos arrozeiros são arrendatários, e só quem é arrendatário sabe o quanto é difícil suspender um contrato. E fora isso, para cada um que deixa de plantar, mesmo em áreas inçadas, com dois levantes, de alto custo, aparecem mais dois ou três querendo o espaço. Pra mim, só temos uma saída para reduzir área de arroz no Rio Grande do Sul e é através da soja na várzea, naquelas áreas mais próprias para este cultivo, com quem domina essa tecnologia. Trocando arroz por arroz, não vamos a lugar algum e o arrozeiro não tem condições de deixar uma área parada. Então, ou é a soja ou é a soja a nossa saída”, aponta.
Por que reduzir a área?
A proposta da Federarroz pela redução da área cultivada com arroz no Rio Grande do Sul, nos demais estados brasileiros e nos três países do Mercosul: Argentina, Paraguai e Uruguai, partiu da conjuntura atual. Em 2015/16 o Brasil colheu uma de suas menores safras por perdas com El Niño, que também atingiu o Mercosul. O país vinha de uma situação em que o câmbio fazia o arroz brasileiro ser muito mais competitivo do que o importado dos países vizinhos.
Com a safra menor e a contaminação do quadro econômico pelos escândalos políticos, a situação do câmbio se inverteu e o Brasil passou a importar muito, em especial do Paraguai. A balança comercial se inverteu e de exportador líquido o setor se tornou importador líquido. Deixamos de ter preços competitivos para exportar e passamos a ser o mercado alvo do Mercosul.
Com o arroz a US$ 12,50 dólares, em média, o Brasil tem um preço de arroz que é rentável em quase todos os países produtores do mundo, menos aqui, onde o custo de produção beirou 15 dólares. No Uruguai, por exemplo, uma saca de arroz vale, ao produtor, US$ 9,00 (R$ 28,35). No Paraguai, chega a ser negociada a US$ 8,00 (R$ 25,20) – US$ 1,00 = R$ 3,15. A diferença é de ate R$ 15,00 por saca a favor dos paraguaios, mas ainda está ainda mais longe do custo médio de R$ 45,00 estimado por alguns setores arrozeiros par aa lavoura gaúcha.
Ou seja, todo o Mercosul passou a ter no Brasil o grande e atrativo mercado, o Paraguai deixou de buscar novos mercados porque tem grandes e fiéis compradores brasileiros para praticamente toda a sua safra. A indústria e o varejo brasileiro encontraram fornecedores que têm arroz de qualidade – praticamente iguais aos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina – e até 20% mais barato. Essa oferta e estes preços, aliados à grande oferta brasileira, aumentada porque as exportações nacionais não engrenaram este ano, geraram uma pressão ainda maior no mercado doméstico brasileiro.
Com a estimativa de clima neutro na próxima temporada, já se espera uma colheita novamente farta, ou pelo menos dentro da média dos últimos bons anos. Com um estoque de passagem mais alto – que não havia em fevereiro de 2017 -, abundância de produto no Brasil e no Mercosul e as condições Macroeconômicas e de câmbio, é natural que a Federarroz considere que se não enxugar a oferta, o Mercosul todo vai enfrentar um ano de baixos preços e um grande risco de perder renda, aumentar o endividamento e afetar até quem está capitalizado. Portanto, embora com poucas chances de dar certo, já que o arrozeiro é individualista e geralmente aumenta área quando sabe que o vizinho vai diminuir, a intenção da Federarroz por uma redução de área se justifica.
Mas, não deve se concretizar.
E o 2018 promete ser um ano de muitas dificuldades.
E pode mudar o cenário?
Pode. Se, por exemplo, novo escândalo político abalar a econômica e a taxa cambial, mudanças podem acontecer. Bastaria para isso que o Brasil retomasse a capacidade de exportar 1 milhão de toneladas por ano, escoando o que é importado do Mercosul. Um volume de perdas similar ao provocado pelo El Niño em 2015/16, também poderá afetar o mercado.
Se não a área não vai diminuir, o que poderia neutralizar a estagnação dos preços?
Com os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (80% da produção nacional, juntos) na faixa de R$ 39,00 – R$ 5,00 acima do valor referencial da Política de Garantia de Preços Mínimos para que o governo intervenha no mercado – e R$ 11,50, ou 23% abaixo do praticado há um ano (R$ 50,50), uma recuperação só aconteceria se a indústria voltasse a demandar produto que ainda está na mão dos produtores. Mas, a estimativa é de que este volume é muito pequeno e está nas mãos de agricultores muito capitalizados. Então, poucos teriam a chance de cobrir os custos de produção.
Por outro lado, o governo só pode intervir no mercado quando os preços chegarem a R$ 34,00 no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A situação é do arrozeiro se afogando porque nem consegue ficar na superfície do rio e nem consegue chegar ao fundo para tomar impulso rumo à superfície.
AGFs
Ainda que o governo tenha previsto recursos para interferir no mercado com Aquisições do Governo Federal (AGFs) para até 300 mil toneladas, as medidas de contenção de despesas são bem austeras e sem os preços batendo no piso do preço mínimo, isso não acontecerá.
PEP Exportação
O que se estuda, e poderia ser uma saída, mas também está atrelado à política de preços mínimos – por isso engessado – é a realização de um PEP exportação. Ou seja, o governo cria o incentivo para venda de arroz, cobre o frete até o porto e algumas taxas, a cadeia produtiva ganha US$ 2,00 ou USS 4 dólares em competitividade e retoma as exportações.
Dentro do governo, na área técnica, já existem conversas neste sentido, mas será preciso criar normas e leis específicas, o que não deveria alcançar esta temporada, a menos que seja encontrada uma solução alternativa. Com um PEP exportação, a partir de outubro, por exemplo, os analistas acreditam que o Brasil teria possibilidade de escoar até 500 mil toneladas extras até fevereiro, volume que corresponde às importações do Paraguai, e reequilibraria o mercado.
Mas, não há previsão de que o governo venha a interferir, a menos que os preços cheguem a R$ 34,00. E isso, também, ninguém quer.
Ao longo da história, o governo federal sempre formou estoques reguladores e comprou arroz quando havia oferta mais alta, mantendo os preços acima do mínimo – que nunca representa exatamente o custo – mas abaixo do que poderia alcançar no pico do mercado, pois na medida em que os preços aumentavam, ele desovava o estoque. Aqui cabe bem o exemplo do afogado, de novo. Nem deixava o preço ao produtor chegar ao fundo, nem deixava chegar à superfície.
Com os estoques zerados, o governo deixa de ser um problema, mas por outro lado a cadeia produtiva não consegue se organizar a ponto de ter seus “contravenenos” para o excesso de oferta e as disparidades cambiais, de custos, tributárias e de preços do Mercosul.
E volta a depender de ações políticas.
Se vierem que não seja a intervenção com AGFs, pois é um estoque que seguirá pressionando o mercado e voltará ao mercado quando os preços evoluírem. Melhor que seja um PEP ou mecanismo similar para exportação, pois este é um arroz que voltará à cadeia produtiva em receita, em dólar, em empregos e em renda.
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